Apenas um de muitos sucessos

Apenas um de muitos sucessos
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"Desde o momento em que integrei as formações sanitárias da Unidade de Socorro da Cruz Vermelha de Braga, imensas situações de que me poderei sempre orgulhar se foram sucedendo e também infelizmente muitas situações menos felizes também fazem parte deste percurso de vida na Cruz Vermelha. Situações felizes e infelizes fazem parte do trajeto numa área como é a emergência.

Posso recordar uma das situações que me marcou para toda a vida, conforme já no passado relatei a um jornal local. Estava há poucos anos na Cruz Vermelha em serviço de piquete de chamada à emergência, quando fomos ativados pelo hospital para efetuar um transporte do hospital de S. Marcos em Braga com destino ao hospital de Stº António no Porto.

Chegados ao hospital de S. Marcos tomamos conhecimento do serviço para o qual fomos solicitados. Constava de uma menina de 5 anos de idade que estava a necessitar de ser transferida para o hospital de Stº António, pois era o centro hospitalar que dispunha de técnicos e tecnologia para tratar a criança que estava à nossa frente. Como chefe de piquete que eu era na altura e verificando a gravidade da situação solicitei a presença de um médico no acompanhamento desse transporte de que recebi uma resposta negativa em virtude de o hospital não dispor de nenhum médico disponível para dispensar e principalmente e o que foi motivo de grande orgulho, foi dizer-nos que a criança estava bem entregue nas mãos dos socorristas da Cruz Vermelha e o hospital tinha plena confiança nas nossas qualidades e nos nossos serviços.

Perante tal afirmação, enchemo-nos de coragem e iniciamos a transferência da criança para a nossa ambulância. Iniciamos o transporte e a criança estava estabilizada. Após passarmos a saída da autoestrada para Famalicão detetamos que a criança entrou em paragem cárdio-ventilatória. O sangue gelou-nos nas veias pois já não tínhamos hipóteses de nos deslocarmos para o hospital mais próximo que na altura era o hospital de Famalicão e só tínhamos a alternativa de continuar viagem até ao nosso objetivo no Porto. Rapidamente iniciamos a reanimação cárdio-pulmonar naquela criança minúscula e frágil naquela maca enorme. Trabalhamos incansavelmente e com o coração nas mãos, pois a vida daquela criança dependia totalmente de nós e estávamos a ver aquela frágil vida a escapar-nos entre os dedos. Não desistimos e aplicamos todos os conhecimentos que adquirimos durante os árduos treinos que tivemos para trás. Todo o sacrifício e stress valeu a pena, pois essa criança entrou no hospital de Stº António nos meus braços a chorar e a chamar pela sua mãe. Não soube mais nada dessa criança desde essa data, mas quero acreditar que hoje em dia deve ser uma ótima mãe de família e graças à felicidade de se ter cruzado connosco nesse momento crucial da sua vida."