Equipa de Rua

Equipa de Rua
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"A história que passo a relatar passou-se no ano de 2017, na Equipa de Rua, sendo eu, à altura dos factos, voluntária da mesma equipa.

Numa das nossas rondas, conhecemos um jovem com cerca de 26 anos que se dirigiu a nós pedindo ajuda. Atravessava uma fase de recaída nos consumos de drogas, tinha perdido a casa, o emprego e tudo mais que lhe pertencia. Tinha, no passado, frequentado uma Comunidade Terapêutica que lhe proporcionara as condições para se reintegrar na sociedade. Contudo, e como tão frequentemente acontece, recaíra nos consumos. Estava longe da família, e não se sentia no direito de lhes pedir ajuda, no estado em que se encontrava. De seu, possuía apenas a roupa do corpo; mas notava-se claramente que se tratava de um jovem com potencial.

Era com lágrimas nos olhos que nos pedia ajuda e dizia querer de volta a vida que tinha, a sua casa e o seu emprego. Foram muitas as ocasiões em que a equipa prestou apoio emocional a este jovem, tanto pessoalmente como por via telefónica. Foram também prestados outros apoios nomeadamente ao nível alimentar e de vestuário. Recordo-me de ouvir, mais tarde, este jovem contar que, antes de receber a nossa ajuda, derretia açúcar e fazia caramelos para enganar a fome.

Finalmente, e com o consentimento do mesmo, a equipa conseguiu uma entrevista para o jovem numa Comunidade Terapêutica. A entrevista foi bem sucedida e o jovem ingressou na mesma Comunidade. No entanto, e para nosso espanto, decidiu sair no dia seguinte. Pessoalmente, pensei que o jovem desistira dos seus objetivos e que continuaria na espiral descendente em que se encontrava. Dias mais tarde, fiquei a saber que este jovem decidira recomeçar noutra cidade, longe dos lugares e dos rostos que lhe recordavam as piores fases da sua vida. Estava já a iniciar atividade laboral por conta própria, com a ajuda de amigos. Entretanto, veio visitar-nos já no seu próprio carro e contou-nos que se tem mantido longe dos consumos e concentrado no seu trabalho. Tinha novamente uma casa, uma ocupação e, acima de tudo, planos para o futuro nos quais as drogas não se incluíam!

Sabemos que, no processo de recuperação de uma pessoa com dependências, são frequentes as recaídas e, por isso, não posso afirmar que este seja um caso de sucesso a longo prazo. Foi, contudo, um caso de sucesso naquele período de tempo em que conseguimos prestar apoio a uma pessoa em necessidade e a ajudamos a reencontrar o seu caminho, fornecendo-lhe as "ferramentas" para a reintegração na sociedade e na vida ativa."