'Nós criamos laços'

'Nós criamos laços'
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"Confesso que não tenho o dom da palavra e tão pouco o dom da escrita, qual Antoine de Saint-Exupery e o seu principezinho.

A Dª. H, era uma senhora de 90 anos viúva e sem filhos vivia sozinha, utente do SAD "há uns bons anos" (como ela dizia), participava assiduamente nas atividades de animação que o SAD desenvolvia.

Estávamos a realizar uma visita às termas Romanas do alto da Cividade e devido às suas dificuldades de mobilidade coube-me acompanhar a utente, e durante toda a tarde a Dª H confidenciou algumas das suas vivências pessoais, nomeadamente a relação com a família.

Referiu estar muito contente por lhe proporcionamos a visita aquele espaço: "sabe eu quando era nova passava muitos vezes por aqui com o meu carro, mas nunca reparei neste espaço, com esta idade o que eu aprendo!" "foi uma tarde bem passada".

Agradeceu-nos repetidamente o apoio que lhe dávamos "estou sempre à vossa espera" "já são minhas amigas, sabem tudo sobre mim".

Na semana seguinte à hora de almoço a Dª H não estava à nossa espera, não nos respondia, conseguimos após vários contactos falar com a família para vir abrir a porta. Entramos a Dª H estava caída no chão, realizamos os procedimentos de emergência. Quando os técnicos do INEM estavam no local efetuaram diversas questões a sobre a utente aos familiares (idade, problemas de saúde, medicação, etc), quem respondia a essas questões eramos nós. A utente foi para o Hospital, mas não regressou.

Efetivamente a Dª H tinha razão nós sabíamos tudo sobre ela, o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD), não fornece apenas serviços básicos, no SAD nós criamos laços, porque cativamos.

 

Entendo agora Antoine de Saint-Exupery : "Só conhecemos o que cativamos – disse a raposa - Os homens deixaram de ter tempo para conhecer o que quer que seja. Compram as coisas já feitas aos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens deixaram de ter amigos..."